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Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga
Descrição de chapéu São Paulo

Vereador que propôs 'PL da Fome' cai no ostracismo

Rubinho Nunes diz que errou no cálculo da multa para quem alimentasse os pobres

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São Paulo

Não fosse a imprensa e a indignação popular, o aberrante projeto de lei 445/23, chamado de "PL da Fome" apresentado pelo vereador Rubinho Nunes (União), teria evoluído na Câmara. O projeto estabelecia multas para quem alimentasse moradores de rua.

Embora tivesse um suposto objetivo de garantir segurança alimentar para essa população, o PL, agora engavetado, tinha um sentido preconceituoso e desumano e mesmo assim passou por todas as comissões legislativas e foi aprovado por maioria absoluta em primeira votação.

Isso não significa que ele seria aprovado em segunda votação, mas mostra que os vereadores, se não deram corda para o enforcado, estão com problemas de discernimento, não fazem contas e cometem erros colossais ao avaliar questões de grande importância social e que afetam diretamente os cidadãos mais fragilizados.

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Penalizar quem distribui alimentos para a população miserável é uma crueldade, seja qual for o argumento para tomar a medida. Em entrevista para este blog, o vereador Rubinho disse que o objetivo não era multar, mas exigir autorização prévia da Secretaria de Subprefeituras e da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social para a distribuição de comida.

Segundo ele, a punição atingiria apenas as Organizações Não Governamentais (ONGs) e associações que distribuíssem marmitas sem autorização, mas o artigo 1º do projeto se refere também a "quaisquer cidadãos ou grupos de pessoas que desejem doar alimentos a moradores em situação de vulnerabilidade social na cidade". Na prática, qualquer um que fizesse isso estaria sujeito a uma multa de R$ 17,6 mil, o equivalente a 500 Ufesps (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo).

Atualmente "cancelado", como eles mesmo admite, Rubinho diz que se confundiu no cálculo da multa e com o valor das Ufesps e que não era sua intenção estabelecer uma multa exorbitante. "Ela foi proposta em Ufesps e não fiz as contas na hora de apresentar o projeto. Eu o apresentei sem calcular", afirma, sugerindo que fez tudo nas coxas.

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Ele também confessa que errou no texto do artigo 1º, que deveria ter sido menos abrangente e se restringido às ONGs, que, segundo ele, concentram a distribuição de comida para alguns grupos e deixam outros desamparados. "Eram pontos (as falhas do projeto) que eu poderia melhorar num substitutivo, mas dado o ataque imenso que foi feito e à desinformação, o PL se tornou inviável e entendi que não era mais adequado tramitar com ele", diz.

Rubinho defende, porém, a validade de suas intenções, que eram melhorar a distribuição de alimentos para atingir mais pessoas e garantir que os moradores de rua tivessem tendas, mesas, cadeiras, guardanapos e talheres para comer. Quanto à crítica de ele ser contra a doação de comida para os pobres, diz que é "absurda". "Outro dia mesmo encontrei pessoas que precisavam se alimentar e comprei almoço para todas", afirma.

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Sobre o fato de o projeto ter tramitado naturalmente na Câmara sem críticas e objeções, Nunes acredita que foi vítima de "oportunismo". "Todo mundo sabia o que era, aprovou, deixou passar e, inclusive, quando o PL foi votado não houve obstrução para que fosse mais discutido", diz. "Aprovaram em 37 segundos com só 14 votos contrários, mas os oportunistas passaram a atacá-lo depois que a imprensa começou a bater.".

Na opinião de Rubinho, há "bastante gente hipócrita na Câmara". Cita partidos de oposição, como o PSOL, que teria votado a favor do projeto nas comissões. "Se qualquer vereador chegasse no dia da votação e falasse que a multa era exagerada, ele nem teria sido pautado", acrescenta.

Outra crítica que o vereador rejeita é que o PL seria um ataque ao trabalho do padre Júlio Lancellotti, com quem ele tem desavenças. Visando o padre, Rubinho propôs em dezembro de 2023 uma CPI das ONGs. "Meu projeto é de agosto, anterior a esses acontecimentos", afirma. "Estou passando por um cancelamento, muito por conta de eu ser um parlamentar de direita." O cancelamento, no caso, é uma espécie de ostracismo com mandato.

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